terça-feira, 24 de novembro de 2009

A VINGANÇA DE ZÉ DE ANINHA

São João! Fuguete! Istôro!
E eu aqui, queto, iscundido,
Muito triste e arrepindido,
Cum cara de mau agôro.
Eu so fio do Ás de Ouro
Qui, pur disventura minha,
Liquidei o Zé de Aninha
Nu’a noite de Natá
E agora vivo a pená
De um remorso qui me ispinha.

A sorte é quem ditrimina
O qui nós é nesse mundo;
Uns nasce pra vagabundo
E tem qui cumpri a sina,
As vez a gente arrimina
Faz tolice de minino
Mas num distorce o distino.
Zé nasceu pru baráio
Eu, da vida nos ataio,
Triminei seno assassino.

Mas paguei as minhas pena
Todinha à sociedade,
Só inda agora a maldade
Do remorso me condena;
Fecho os óio e vejo a cena
Do Zé a se acabá;
No seu sangue se banhá...
Tombém oiço as pancada
Dos sino, as badalada
Da ingrejinha do arraiá.

Iscute, seu moço, meu azá,
Foi vê naquela vingança
I simbora a isperança
D’eu um dia me salvá,
Dispois de o Zé eu matá,
Num buteco – o Perde e Ganhe
Eu quis inté abri champanhe;
Mas a vingança nos trai:
Jugano vingá meu pai,
Quaje matei minha mãe.

Minha mãe qui sofreu tanto
- Cuma ela merma me contô –
Qui derna qui se casô
Qui veve a derramá pranto,
Fez promessa a todo santo
Pra meu pai – O véi Celino,
Dexá o triste distino,
Do barái dexá os trio
E acabô foi veno o fio
Na prisão como assassino.

E meus ano de prisão,
Qui quaje num acabam mais.
Minha mãe num teve paz,
Só mágua no coração.
E só, naquela aflição,
Lembrei dela – Dona Aninha,
A mãe do Zé, u’a veinha
Qui veve a rezá pur ele.
Eu, veno triste a mãe dele,
Lembrava, triste, da minha.

Parece inté um mistéro.
Qué vê, repare, patrão:
Das grade de minha prisão,
Eu via de perto o impero
Da tristeza – o sumitéro.
E via sigui de pé,
Todo dia u’a muié...
- Era ela, Dona Aninha,
Qui ia toda tardinha
Rezá na cova do Zé.

As duas santas muié,
Sobe ainda na prisão,
Qui passavam privação
Talvez inté fome, inté.
Prá irem, cheia de fé,
U’a vê o fio novamente,
Teno no pé u’a corrente;
A ôta, pru campo santo.
Duas mãe com o mermo pranto
Chorano dô diferente.

Moço, nós tudo um dia
Divia entrá num xadrez,
Passá dois dia ou três,
Veno passá sem alegria
As hora nas inxovia
Mermo sem firi ninguém;
Garanto, qui era um bem
Siria útil a lição,
Diminuía os ladrão,
E os assassino tomém.

Mas, sim, minha penitença:
Paguei toda na prisão,
Mas a arma e o coração,
Tão presa em otra sentença;
No remorso, a mágua imensa
Qui me traz arrepindido,
Me taxaro de bandido
E, ao senti esse horrô,
Eu fiz a nosso senhô
Esse pungente pedido:

Oh! Deus, tenha a arma do Zé
No santo reino da glora
E me dexe vida a fora
Nos ispinho sangrano os pé.
Inté que um dia inté
Eu ganhe de novo a isperança
Qui só penano se arcança;
Dexe,meu Deus, eu sofrê!
E qui seja do meu vivê
Do Zé de Aninha a vingança.

3 comentários:

  1. OI VOCÊ É PARENTE DE tUDE UM POETA DE sALVADOR DAS ANTIGAS? MEU PAI ERA AMIGO DELE MORREU EM 74 ELE CHAMAVA MEU PAI DE TRACA PORQUE GOSTAVA DE LIVROS KKKKK EU SOI DIACUIPATAXO@HOTMAIL.COM NO FACE SOU DIAcui Alves Amorim Pataxo. abraco aguardo resposta

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  2. OI Justina, hoje faleceu meu irmão, Reynaldo da Silva, que conheceu seu pai e era amigo dele, junto com meu pai. Reynaldo recitava o Ás de Ouro e A Vingança do Zé de Aninha , de cor. Fez isto por décadas, e toda vez que estavamos em festa , a familia, tinha que haver o recital. Abraço. Diacui Pataxo

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