segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CABOCO SERO

(A Jorge de Oliveira Martins)

Tu qué, caboca, i cum eu,
Morá lá no meu barraco,
N'ua casinha de supapo,
Cubertinha de sapé?
Caboco sero, num iludo,
Meu casebre tem de tudo
Que tem casa de pobre,
Tá inté sobrano uns cobre,
Mas tá fartano muié.

Se vancê fô lh'agaranto
Certo cumo sô home
Passo a casinha em seu nome
Pru tinta e papé, le dano.
Cuma sabe, vivo só,
Mas preciso de um xodó
Pra me fazê cafuné
Aprepará meu café
E brigá de vez in quano.

Vamicê ino, caboca,
Cumigo num se dá má,
Abasta se acustumá
Cum os defeito qui tenho
Um é sê mão aberta
Amigo bom vem na certa,
Pruque eu teno ele tem,
Pra sirvi quem quero bem
Inté a camisa impenho.

Sou manso, sou assussegado,
E nunca muié aêia,
Seno ela bunita ô feia
Eu oiêi cum safadice.
Esse é meu rejume,
Se vancê qué nós assume
Um trato, um cumpromisso
Num tem quengo nem feitiço,
E nem tem disse-me-disse.

Tô tombem respeitadô
Cum otras muié falo pouco
Mas se argum pilantra louco
Desses qui veve no mangue
Buli cum muié minha
Dexa de cumê farinha
Da lei eu sarto pur riba
E no no aço da parnaíba
Dô um banho morno de sangue.

Pois num nasci cum fidunça
Nem cum jeito de paiaço
Persigo no mermo traço
Do meu pai, na merma linha
Véio que nunca mentia
E sempre sempre dizia
De peito inchado e de pé:
Respeito todas muié
E amo somente a minha.

Mas meu defeito maió
É istragá meus tustão
Ganho uito e nessas mão
Nada fica, tudo passa
Vendo tudo, tudo impenho
Impresto tudo qui tenho,
Troco fejão pru farinha
Mais porém cum muié minha
Num hai negoço qui faça.

Se vancê qué i cum eu
Vamo mas seje fié
Pra um home de meu toré
Só muié sera de fato
É seu todoo arrebanhado
Qui eu fizé lá no roçado,
Mais caso vancê me atracei,
Num tem discurpa nem lei,
Eu juto pru Deus, lhe mato!

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